Hora de dormir e hora de
acordar. Despertar mais cedo para trabalhar. Acostumar com horário de verão.
Viajar para outros países e se adaptar ao fuso horário. Todos temos relógios
que se ajustam aos ciclos ambientais. O que são estes relógios, onde estão, como
interagem com o organismo e com o meio são as perguntas que a cronobiologia
tenta explicar.
A sincronização do
organismo aos ciclos ambientais funciona exatamente como o ajuste de um relógio
ao horário local de uma cidade. Quando viajamos para outra região em que existe
diferença de fuso horário, mecanismos são desencadeados para gerar uma
adaptação do corpo à nova situação enfrentada. O mais curioso é que o
ritmo biológico é gerado pelo organismo com um período diferente de 24 horas. A
grande maioria das pessoas apresenta um ciclo de sono e vigília acima desse
horário.
Pessoas vespertinas
apresentam um rendimento melhor durante à noite. Trabalham, estudam e ficam até
altas horas acordadas sem nenhum problema. Consequentemente acordam mais tarde
para compensar o tempo que estavam em atividade. Essas pessoas representam o
grupo cujo relógio biológico está sincronizado num tempo acima de 24 horas. Já
as pessoas matutinas têm facilidade para acordar cedo e apresentam um ótimo
desempenho pela manhã. Acordam felizes, de muito bom humor e estão
dispostas a ir pra academia às 5h30min, se for o caso. Nessas situações, seus
ritmos estão ajustados num período menor que 24 horas ambientais.
Constantemente essas pessoas tendem a acordar mais cedo, já que são naturalmente
mais “adiantadas”, assim, devem atrasar seu relógio biológico para
ajustar-se ao horário diário. Em contrapartida, esse ajuste torna-se um esforço
sobrenatural para alguns vespertinos, quando tratamos do horário de verão. A
dificuldade de acordar cedo para eles já é natural, e aumenta quando chega o
novo horário. Como adaptação, novos e sensíveis ajustes diários ocorrem em seus
ciclos circadianos a cada dia. Isso significa que temos que “dar corda”
diariamente em nossos relógios naturais.
Várias situações podem
modificar o funcionamento dos nossos relógios. Estresse, alimentação,
medicamentos e doenças são relevantes, porém nada é considerado mais influente
que a alternância de claro e escuro como principal sincronizador dos ritmos
biológicos.
A simples presença ou
ausência de luz ativa os relógios biológicos localizados no hipotálamo. Essas
informações que trafegam pelo sistema nervoso a partir da retina são
responsáveis pelo ajuste do chamado sistema de temporização, e caminham por
vias independentes daquelas envolvidas na formação de imagens. Tal região no
cérebro reconhece se é dia ou noite e é capaz de sinalizar para todas as
células essa informação. Isso ocorre de maneira curiosa, já que a luminosidade
é captada por determinados nervos localizados nos olhos, e conduzida até o
hipotálamo. Lá, o estímulo luminoso é convertido em informação hormonal que irá
ativar uma segunda glândula situada na base do encéfalo: a pineal.
A glândula pineal, por sua
vez, libera um hormônio chamado melatonina, que muitos leitores conhecem, e
provavelmente já tiveram um contato mais íntimo. Quanto menor a quantidade de
luz, maiores as concentrações plasmáticas de melatonina. Os efeitos desse
hormônio induzem ao sono, tornando as pessoas propícias a dormir. Em
contrapartida, com o aumento da luminosidade e mesmo com os olhos fechados, a
secreção de melatonina diminui e a pessoa inicia seu estado de vigília. Por
isso acordamos naturalmente, quando estamos com a cortina do quarto aberta. Em
determinadas regiões, onde escurece mais cedo, a liberação da melatonina inicia
antes. Da mesma forma, a sua depleção também acontece antes, com o nascer do
sol.
Pessoas que trabalham
durante a noite encurtam o período de liberação da melatonina, que também é
considerado um antioxidante natural, chamado anti-age. Desta forma, supõe-se
que quanto menor o tempo de secreção da melatonina, menor sua atividade
antioxidante e maior a ação dos radicais livres que levam ao envelhecimento
precoce. O velho ditado diz que quem dorme mais vive menos. Não neste caso.
Gabriel Hunzicker Skiba é
biólogo, professor de pré-vestibulares e mestrando pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR).
Fonte: Unificado
Nenhum comentário:
Postar um comentário