sábado, 2 de agosto de 2014

POR QUÊ VOCÊ SENTE TANTO SONO



Hora de dormir e hora de acordar. Despertar mais cedo para trabalhar. Acostumar com horário de verão. Viajar para outros países e se adaptar ao fuso horário. Todos temos relógios que se ajustam aos ciclos ambientais. O que são estes relógios, onde estão, como interagem com o organismo e com o meio são as perguntas que a cronobiologia tenta explicar.
A sincronização do organismo aos ciclos ambientais funciona exatamente como o ajuste de um relógio ao horário local de uma cidade. Quando viajamos para outra região em que existe diferença de fuso horário, mecanismos são desencadeados para gerar uma adaptação do corpo à nova situação enfrentada. O mais curioso é que  o ritmo biológico é gerado pelo organismo com um período diferente de 24 horas. A grande maioria das pessoas apresenta um ciclo de sono e vigília acima desse horário.
Pessoas vespertinas apresentam um rendimento melhor durante à noite. Trabalham, estudam e ficam até altas horas acordadas sem nenhum problema. Consequentemente acordam mais tarde para compensar o tempo que estavam em atividade. Essas pessoas representam o grupo cujo relógio biológico está sincronizado num tempo acima de 24 horas. Já as pessoas matutinas têm facilidade para acordar cedo e apresentam um ótimo desempenho pela  manhã. Acordam felizes, de muito bom humor e estão dispostas a ir pra academia às 5h30min, se for o caso. Nessas situações, seus ritmos estão ajustados num período menor que 24 horas ambientais. Constantemente essas pessoas tendem a acordar mais cedo, já que são naturalmente mais “adiantadas”, assim,  devem atrasar seu relógio biológico para ajustar-se ao horário diário. Em contrapartida, esse ajuste torna-se um esforço sobrenatural para alguns vespertinos, quando tratamos do horário de verão. A dificuldade de acordar cedo para eles já é natural, e aumenta quando chega o novo horário. Como adaptação, novos e sensíveis ajustes diários ocorrem em seus ciclos circadianos a cada dia. Isso significa que temos que “dar corda” diariamente em nossos relógios naturais.
Várias situações podem modificar o funcionamento dos nossos relógios. Estresse, alimentação, medicamentos e doenças são relevantes, porém nada é considerado mais influente que a alternância de claro e escuro como principal sincronizador dos ritmos biológicos.
A simples presença ou ausência de luz ativa os relógios biológicos localizados no hipotálamo. Essas informações que trafegam pelo sistema nervoso a partir da retina são responsáveis pelo ajuste do chamado sistema de temporização, e caminham por vias independentes daquelas envolvidas na formação de imagens. Tal região no cérebro reconhece se é dia ou noite e é capaz de sinalizar para todas as células essa informação. Isso ocorre de maneira curiosa, já que a luminosidade é captada por determinados nervos localizados nos olhos, e conduzida até o hipotálamo. Lá, o estímulo luminoso é convertido em informação hormonal que irá ativar uma segunda glândula situada na base do encéfalo: a pineal.
A glândula pineal, por sua vez, libera um hormônio chamado melatonina, que muitos leitores conhecem, e provavelmente já tiveram um contato mais íntimo. Quanto menor a quantidade de luz, maiores as concentrações plasmáticas de melatonina. Os efeitos desse hormônio induzem ao sono, tornando as pessoas propícias a dormir. Em contrapartida, com o aumento da luminosidade e mesmo com os olhos fechados, a secreção de melatonina diminui e a pessoa inicia seu estado de vigília. Por isso acordamos naturalmente, quando estamos com a cortina do quarto aberta. Em determinadas regiões, onde escurece mais cedo, a liberação da melatonina inicia antes. Da mesma forma, a sua depleção também acontece antes, com o nascer do sol.
Pessoas que trabalham durante a noite encurtam o período de liberação da melatonina, que também é considerado um antioxidante natural, chamado anti-age. Desta forma, supõe-se que quanto menor o tempo de secreção da melatonina, menor sua atividade antioxidante e maior a ação dos radicais livres que levam ao envelhecimento precoce. O velho ditado diz que quem dorme mais vive menos. Não neste caso.

Gabriel Hunzicker Skiba é biólogo, professor de pré-vestibulares e mestrando pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).


Fonte: Unificado

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