O ano de 2014 é um ano especial devido ao
acontecimento das eleições para presidente da República, senador, deputado
federal e estadual e governador. Política sempre foi e sempre será um assunto
polêmico, sobre o qual alguns preferem nem discutir, juntamente com futebol e
religião. Desde o início de 2014 já pudemos ouvir alguns debates mais
acalorados em casa, na roda de amigos, no ambiente de trabalho e, com a
aproximação do pleito, a tendência é esse cenário ficar ainda mais quente, já
que começaram as entrevistas dos candidatos aos meios de comunicação, haverá os
debates e, nesta semana, iniciou-se a exibição do horário eleitoral gratuito na
televisão aberta.
Todos os candidatos, a todos os cargos mencionados,
têm um maior objetivo: nos convencer a votar neles. Por meio de argumentos
embasados em propostas, projetos efetivados (no caso dos candidatos à
reeleição), pesquisas e em críticas e acusações aos concorrentes – já que isso
faz parte do jogo, infelizmente – , todos os candidatos tentarão nos convencer
de que eles são os melhores, de que eles são os mais indicados a ocupar
determinado cargo, de que os partidos deles são os que mais pensam no povo
brasileiro etc.
Estamos falando, portanto, de teses, argumentações e
estratégias argumentativas, já que acerca de assuntos variados (educação,
moradia, saúde, empregos, segurança pública, economia, meio ambiente,
saneamento básico, alimentação etc) todos os candidatos possuem e defendem seus
pontos de vistas com argumentos e estratégias argumentativas; ou seja, tudo
isso tem a ver, e muito, com o que falamos desde sempre em relação a redação do
Enem.
Assim, as eleições se mostram como uma grande
oportunidade de prestarmos atenção nas teses, nos argumentos e nas estratégias
argumentativas expressas pelos candidatos nas entrevistas, nos debates e na
propaganda eleitoral para, obviamente, analisarmos e refletirmos sobre cada um
deles e votarmos com consciência e conhecimento, mas também para aproveitarmos
estas análises e reflexões nos estudos e na preparação para a prova de redação
do Enem 2014.
Devemos nos atentar e pensar se aquele candidato está
fundamentando adequadamente a sua tese em argumentos sólidos e se consegue
rebater satisfatoriamente um contra-argumento do adversário ou do
entrevistador, por exemplo. Mas não devemos direcionar a nossa atenção apenas
para os candidatos; devemos analisar e refletir sobre os argumentos utilizados
por nós mesmos e pelos nossos amigos e familiares nas discussões e conversas
sobre política.
Muitos defendem com unhas e dentes um candidato e
reprovam totalmente outro, mas, infelizmente, alguns não embasam seus
argumentos e constroem pensamentos vazios, facilmente derrubados; há ainda
aqueles que votam por conveniência, isto é, por costume e nem sabem os motivos
que o levam a votar em determinada pessoa.
Como já dissemos várias vezes, uma argumentação bem
fundamentada é um dos segredos para sair-se bem na prova de redação do Enem ou
em qualquer outra avaliação que exige a produção de uma
dissertação-argumentativa.
Para exemplificarmos, relataremos uma discussão real
ocorrida em uma rede social em meados do mês de julho. Uma jovem baiana, ao
comparecer a um posto da Polícia Federal para entregar a documentação
necessária, registrar suas digitais e tirar a foto para a emissão de seu
passaporte passou por um constrangimento. O sistema, segundo o funcionário que
a atendeu, não aceitou o seu cabelo black power no momento da foto após algumas
tentativas e, para finalizar o pedido de seu documento, ela teve de prender seu
cabelo para que a foto fosse feita e aceita pelo sistema.
Esta moça, mestranda da Universidade Federal da Bahia,
após o ocorrido, escreveu um desabafo em seu perfil no Facebook no qual relatou
o constrangimento sentido por ela e isentou, inclusive, os funcionários que a
atenderam, pois o problema estava no sistema e não no atendimento em si; o
problema está em quem ordenou que o sistema fosse programado para que não
aceitasse cabelos black powers.
Além deste depoimento, a jovem foi a um programa
matutino da rede Globo e contou a sua história e a Polícia Federal enviou uma
nota à emissora afirmando que o sistema é rigoroso e não aceita fotos nas quais
não aparecem as orelhas e os ombros da pessoa, além de cabelos volumosos, por
exemplo, por questões de segurança e isentou-se do triste ocorrido. No entanto,
o desabafo da moça repercutiu de tal forma que mais pessoas alegaram
terem sido constrangidas em relatos semelhantes, todas negras e com
cabelos blak powers.
O ponto ao qual gostaríamos de chegar é que, um dos
membros do portal InfoEnem publicou, um sua página no Facebook, o depoimento
desta moça a fim de criticar a posição da Polícia Federal e com o intuito de
apoiar a causa e uma pessoa comentou a postagem dizendo que “em todo o mundo há
normas de segurança que não devem ser discutidas e sim cumpridas e que tudo
agora, neste país, é racismo e motivo de constrangimento”.
O autor da postagem respondeu, dizendo que não
concorda com tal opinião, pois a moça, no fim, cumpriu a regra, pois prendeu os
cabelos e tirou a foto e alegou que o sistema poderia ser reprogramado para
aceitar penteados black power; ele ainda argumentou que tirou seu passaporte
recentemente e que fez a foto com os cabelos soltos, um pouco acima do ombro,
cobrindo as orelhas e questionou os motivos pelos quais o atendente da Polícia
Federal não pediu que as orelhas aparecessem, por exemplo. Já que a questão é
não cobrir o rosto, na televisão ficou claro que o black power da jovem não
encobria seu rosto, mas, mesmo assim, seu cabelo foi considerado “inseguro”.
A outra pessoa, em seguida, respondeu que o cabelo
“conta muito” em relação a segurança, mas não explicou o porquê; apenas expôs
seu ponto de vista, mas não argumentou, não o fundamentou, não o embasou e não
conseguiu rebater os argumentos postos pelo autor da postagem.
Este é um exemplo claro de uma pessoa que não consegue
construir uma linha argumentativa lógica e coerente, com estratégias
argumentativas que suportem uma tese e é isso que não pode ser feito em uma
redação do Enem, por exemplo.
Então, devemos trabalhar para que não sejamos vazios
em discutirmos ou debatermos sobre algum assunto ou algum tema, como na redação
do Enem.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda
em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao
ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em
em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de
avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando
serviço ao Ministério da Educação (MEC).
Nenhum comentário:
Postar um comentário