segunda-feira, 25 de agosto de 2014

REDAÇÃO, ELEIÇÃO E ARGUMENTAÇÃO

O ano de 2014 é um ano especial devido ao acontecimento das eleições para presidente da República, senador, deputado federal e estadual e governador. Política sempre foi e sempre será um assunto polêmico, sobre o qual alguns preferem nem discutir, juntamente com futebol e religião. Desde o início de 2014 já pudemos ouvir alguns debates mais acalorados em casa, na roda de amigos, no ambiente de trabalho e, com a aproximação do pleito, a tendência é esse cenário ficar ainda mais quente, já que começaram as entrevistas dos candidatos aos meios de comunicação, haverá os debates e, nesta semana, iniciou-se a exibição do horário eleitoral gratuito na televisão aberta.
Todos os candidatos, a todos os cargos mencionados, têm um maior objetivo: nos convencer a votar neles. Por meio de argumentos embasados em propostas, projetos efetivados (no caso dos candidatos à reeleição), pesquisas e em críticas e acusações aos concorrentes – já que isso faz parte do jogo, infelizmente – , todos os candidatos tentarão nos convencer de que eles são os melhores, de que eles são os mais indicados a ocupar determinado cargo, de que os partidos deles são os que mais pensam no povo brasileiro etc.
Estamos falando, portanto, de teses, argumentações e estratégias argumentativas, já que acerca de assuntos variados (educação, moradia, saúde, empregos, segurança pública, economia, meio ambiente, saneamento básico, alimentação etc) todos os candidatos possuem e defendem seus pontos de vistas com argumentos e estratégias argumentativas; ou seja, tudo isso tem a ver, e muito, com o que falamos desde sempre em relação a redação do Enem.
Assim, as eleições se mostram como uma grande oportunidade de prestarmos atenção nas teses, nos argumentos e nas estratégias argumentativas expressas pelos candidatos nas entrevistas, nos debates e na propaganda eleitoral para, obviamente, analisarmos e refletirmos sobre cada um deles e votarmos com consciência e conhecimento, mas também para aproveitarmos estas análises e reflexões nos estudos e na preparação para a prova de redação do Enem 2014.
Devemos nos atentar e pensar se aquele candidato está fundamentando adequadamente a sua tese em argumentos sólidos e se consegue rebater satisfatoriamente um contra-argumento do adversário ou do entrevistador, por exemplo. Mas não devemos direcionar a nossa atenção apenas para os candidatos; devemos analisar e refletir sobre os argumentos utilizados por nós mesmos e pelos nossos amigos e familiares nas discussões e conversas sobre política.
Muitos defendem com unhas e dentes um candidato e reprovam totalmente outro, mas, infelizmente, alguns não embasam seus argumentos e constroem pensamentos vazios, facilmente derrubados; há ainda aqueles que votam por conveniência, isto é, por costume e nem sabem os motivos que o levam a votar em determinada pessoa.
Como já dissemos várias vezes, uma argumentação bem fundamentada é um dos segredos para sair-se bem na prova de redação do Enem ou em qualquer outra avaliação que exige a produção de uma dissertação-argumentativa.
Para exemplificarmos, relataremos uma discussão real ocorrida em uma rede social em meados do mês de julho. Uma jovem baiana, ao comparecer a um posto da Polícia Federal para entregar a documentação necessária, registrar suas digitais e tirar a foto para a emissão de seu passaporte passou por um constrangimento. O sistema, segundo o funcionário que a atendeu, não aceitou o seu cabelo black power no momento da foto após algumas tentativas e, para finalizar o pedido de seu documento, ela teve de prender seu cabelo para que a foto fosse feita e aceita pelo sistema.
Esta moça, mestranda da Universidade Federal da Bahia, após o ocorrido, escreveu um desabafo em seu perfil no Facebook no qual relatou o constrangimento sentido por ela e isentou, inclusive, os funcionários que a atenderam, pois o problema estava no sistema e não no atendimento em si; o problema está em quem ordenou que o sistema fosse programado para que não aceitasse cabelos black powers.
Além deste depoimento, a jovem foi a um programa matutino da rede Globo e contou a sua história e a Polícia Federal enviou uma nota à emissora afirmando que o sistema é rigoroso e não aceita fotos nas quais não aparecem as orelhas e os ombros da pessoa, além de cabelos volumosos, por exemplo, por questões de segurança e isentou-se do triste ocorrido. No entanto, o desabafo da moça repercutiu de tal forma que mais pessoas alegaram terem sido constrangidas em relatos semelhantes, todas negras e com cabelos blak powers.
O ponto ao qual gostaríamos de chegar é que, um dos membros do portal InfoEnem publicou, um sua página no Facebook, o depoimento desta moça a fim de criticar a posição da Polícia Federal e com o intuito de apoiar a causa e uma pessoa comentou a postagem dizendo que “em todo o mundo há normas de segurança que não devem ser discutidas e sim cumpridas e que tudo agora, neste país, é racismo e motivo de constrangimento”.
O autor da postagem respondeu, dizendo que não concorda com tal opinião, pois a moça, no fim, cumpriu a regra, pois prendeu os cabelos e tirou a foto e alegou que o sistema poderia ser reprogramado para aceitar penteados black power; ele ainda argumentou que tirou seu passaporte recentemente e que fez a foto com os cabelos soltos, um pouco acima do ombro, cobrindo as orelhas e questionou os motivos pelos quais o atendente da Polícia Federal não pediu que as orelhas aparecessem, por exemplo. Já que a questão é não cobrir o rosto, na televisão ficou claro que o black power da jovem não encobria seu rosto, mas, mesmo assim, seu cabelo foi considerado “inseguro”.
A outra pessoa, em seguida, respondeu que o cabelo “conta muito” em relação a segurança, mas não explicou o porquê; apenas expôs seu ponto de vista, mas não argumentou, não o fundamentou, não o embasou e não conseguiu rebater os argumentos postos pelo autor da postagem.
Este é um exemplo claro de uma pessoa que não consegue construir uma linha argumentativa lógica e coerente, com estratégias argumentativas que suportem uma tese e é isso que não pode ser feito em uma redação do Enem, por exemplo.
Então, devemos trabalhar para que não sejamos vazios em discutirmos ou debatermos sobre algum assunto ou algum tema, como na redação do Enem.

*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi corretora de redação em em importantes universidades públicas. Além disso, também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos, inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).

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