Escrever já não é uma tarefa fácil, elaborar um texto para uma prova de vestibular ou Enem parece ser mais complicado ainda, pois exige que uma série de regras sejam cumpridas e ainda impõe o gênero textual que deve ser desenvolvido.
Felizmente, há meios de superar esses contratempos e escrever um bom texto; até porque muitas propostas de redação fornecem informações orientando a elaboração da prova. Adotar os procedimentos sugeridos já é uma maneira de começar a escrever e deixar as ideias fluírem naturalmente.
Mas lembre-se: o mero conhecimento de certas técnicas de texto não é garantia de um bom resultado. É fundamental saber o que não se deve escrever, evitando assim aquelas falhas e deslizes que podem comprometer o desempenho da escrita.
Confira as falhas e os descuidos que os alunos cometem ao redigir um texto:
1º. Fuga do tema
Fugir ao tema estabelecido pela proposta de redação pode invalidá-la. Se foi solicitada uma dissertação sobre o trabalho infantil, mas a redação trata de menores abandonados, certamente a nota será zero.
A maioria dos manuais dos candidatos aos vestibulares das universidades brasileiras traz a informação clara de que a fuga completa ao tema anula a redação.
O trecho a seguir é um exemplo típico de fuga ao tema proposto. Confira:
“Desde a colonização os animais estiveram ao lado da população, sendo utilizado como tração em transporte inicialmente na cana-de-açúcar e depois da mineração para o litoral do país, ao mesmo tempo serviu para a diversão como em touradas ou rinhas de galos, o que é mais comum no Brasil.”
A proposta exigia uma dissertação sobre o uso de animais em experimentos científicos, mas o candidato dissertou sobre a utilização dos animais no trabalho e em ambientes de entretenimento.
2º. Uso de gírias fora de contexto
As gírias são um meio de expressão perfeitamente aceitável em conversas informais, como as que mantemos no dia a dia com nossos amigos e colegas. Elas também podem aparecer em textos narrativos, principalmente nos diálogos travados entre alguns personagens. Entretanto, numa dissertação, em artigos de opinião ou numa carta argumentativa o uso de gírias é inadequado, uma vez que esses gêneros pressupõem uma linguagem elaborada em contextos formais. Além disso, e sobretudo no contexto de uma dissertação, as gírias podem causar algum “dano”, como ilustra a passagem abaixo:
“As pessoas que fazem uso das drogas, a maioria delas é gente da pesada, não se importando com quem está passando. Tem até tiozinho curtindo seu barato na frente das crianças. Está na hora das autoridades olharem para essa questão, pois se continuar como está, não sabemos como vai acabar.”
3º. O ponto final do gênero
Adotar um gênero diferente do solicitado pela prova implica nota zero. Assim, para evitar que seus esforços resultem nulos, leia com bastante atenção a proposta, pois de nada adianta escrever um texto impecável do ponto de vista gramatical se ele não atende ao tipo de texto solicitado.
“Quando pensamos na palavra ‘fronteira’, é quase inevitável relacioná-la ao limite geográfico de uma região. Porém, se analisarmos esse termo com mais cautela, veremos que ele possui um significado muito mais amplo do que apenas o de ‘divisa’.”
A proposta solicitava uma narração sobre personagens que se deslocariam de um país a outro em função dos movimentos migratórios, mas o candidato fez uma exposição de ideias dissertando sobre o tema.
4º. Linguagem prolixa
Alguns estudantes ainda acreditam que fazer uso de palavras rebuscadas surpreende a banca de professores que corrigem as redações e, consequentemente, garante a eles uma boa nota.
Doce ilusão! Segundo orientações da Unicamp, o grau de formalidade exigido pela banca numa dissertação deve ser compatível com a linguagem de alguém que conclui o Ensino Médio. Para não cair em armadilhas, evite se expressar como o autor do texto a seguir:
“A sociedade do mundo moderno - oriunda da inolvidável dispersão cultural - vem sofrendo um fenômeno peculiar: a convergência de costumes e pensamentos. Alguns não concordam com a trajetória retilínea da sociedade (…)”.
5º. Clichês e frases feitas
Expressões caquéticas, clichês ou lugares-comuns podem fazer uma desastrosa diferença em uma redação, colocando o texto em risco, pois são considerados os responsáveis pelo encolhimento da linguagem. São como bengalas que empobrecem o conteúdo de uma produção textual; afinal, não é nenhuma novidade dizer que “o futebol é uma caixinha de surpresas” ou que “a vida é feita de pequenas coisas”. Por esse motivo, clichês são recursos de simplificação e devem ser utilizados apenas na linguagem coloquial. Eles são perfeitos para quem quer chegar logo ao que interessa sem torrar tomar tempo demasiado na construção de modos novos e mais elaborados de dizer.
Flávia Menezes Bergamaschi
Fonte: ALBUQUERQUE, Evaneide Nóbrega. Os 10 pecados da redação.
Revista Língua Portuguesa.Especial Redação 2012. São Paulo, n.5, p. 24-29, ago. 2011.
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