O
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) prevê atendimento específico para pessoas
cegas ou com baixa visão. Em entrevista ao Terra, candidatos afirmam que houve
avanços no auxílio prestado, mas ainda são necessários ajustes. Entre as
queixas, a falta de especialização dos ledores designados para a leitura e
transcrição da prova.
Os
concorrentes podem solicitar o auxílio de ledores e transcritores. O
atendimento é realizado por duplas que podem atuar tanto na leitura quanto na
transcrição dos textos e preenchimento dos cartões de resposta. No local de
prova, ficam apenas o candidato, os dois auxiliares e um fiscal. Hugo Leonardo
dos Santos fez a prova em 2013 e, com o resultado, vai ingressar na
Universidade Federal de Rondônia em agosto de 2014. Ele conta que a ajuda do
ledor foi importante, mas ainda precisa ser mais qualificada. “O ledor descreve
tudo, mapas, gráficos, imagens. As pessoas que me auxiliaram foram nota 10 no
esforço, mas não eram especializadas no trabalho com deficientes. Isso faz
diferença.”
Rafhael
Peixoto foi ledor em 2010 e concorda. A falta de um treinamento específico
gerou dificuldades para ele durante a prova. Rafhael conta que a primeira
questão continha uma imagem que ele não sabia como descrever, só depois de
algum tempo, o ledor descobriu que, na própria prova, existia uma descrição
padronizada para a figura. “Quando descobrimos foi um alívio. Eu já estava me
desdobrando para explicar a imagem a questão.” Ele ainda salienta que o simples
fato de saber ler não é suficiente para tornar alguém um ledor. “É preciso
adequar a velocidade da leitura, a dicção, o próprio método utilizado. Tive que
repetir inúmeras vezes a leitura da mesma questão e de suas alternativas”,
destacando que é preciso deixar o candidato à vontade para solicitar quantas
vezes desejar que uma frase ou questão sejam lidas novamente.
Também
cabe ao ledor a função de transcrever a redação e marcar as respostas na grade
de respostas. Tarso Germany fez o Enem em 2008 e lembra que escreveu a redação
em braille e depois a ditou ao transcritor. Hoje formado em Geografia, Tarso
acredita que fazer a prova ficou mais fácil agora que os ledores trabalham em
duplas. “Quando um cansa, o outro pode ler. Duas pessoas podem explicar um mapa
de maneiras diferentes e assim podem melhorar a compreensão do candidato.”
Como
o processo de leitura e transcrição demanda mais tempo, os candidatos com
deficiência visual têm uma hora a mais para a realização da prova. Para Hugo, o
tempo é suficiente, mas o processo é muito cansativo. “Respondi 180 questões,
com o ledor lendo cada texto, cada questão e alternativas. O tempo todo em uma
sala. É muito ruim, muito cansativo.”
Textos em fontes maiores
Além
do auxílio de ledores e transcritores, os candidatos podem solicitar uma prova
adaptada. Existem três opções: prova ampliada (fonte tamanho 18), prova
superampliada (fonte tamanho 24) e prova em braille. A estudante de Letras da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Maíra Teixeira Cordeiro fez o exame
em 2008 e também considera que houve evolução. “Quando fiz, era uma cópia com
tamanho dobrado, hoje com a superampliada é melhor.”
As
provas com fontes maiores são iguais às aplicadas para os outros concorrentes,
já as em braille sofrem adaptações. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) informa que conta com uma comissão formada
por especialistas de universidades federais e pesquisadores ligados a
instituições dedicadas ao trabalho de educação para estudantes com limitações
de visão, para realizar as adequações da prova em braille.
A
utilização de provas ampliadas e o auxílio de ledores devem ser solicitados no
momento da inscrição. Alguns candidatos, porém, já encontram problemas no
momento de preencher o formulário de necessidades específicas. Maíra, que tem
baixa visão, explica que muitos programas leitores de telas não funcionam bem
no site da Enem.
Maíra
entende que o Enem ainda precisa melhorar para equilibrar as condições entre os
candidatos com deficiência visual e aqueles que não têm necessidades
específicas. “A prova vem melhorando, os ledores, os gráficos em alto relevo.
Mas ainda não cumpre a função de ser acessível. Acredito que os estudantes com
deficiência deveriam ser mais ouvidos.”
Fonte: Terra Educação
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