Lista de obras vale para os dois principais vestibulares do país. Começando nesta semana, dá para ler tudo até o fim do ano sem aperto, garante especialista
Bianca Bibiano, na Veja
Os organizadores da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) e da Fuvest, que organizam, respectivamente, os vestibulares da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP), ainda não anunciaram as datas das provas, mas já confirmaram a lista de livros obrigatórios. As nove obras exigidas nas provas de seleção para 2015 serão as mesmas do último ano.
Para ajudar os estudantes a se organizarem, o site de VEJA.com fez um guia de leitura em parceira com o Anglo Vestibulares. Começando nesta semana, os candidatos aos dois maiores processos seletivos do país terão tempo suficiente para ler — e compreender — as obras literárias.
De acordo com o professor de literatura Fernando Marcílio, é possível dividir a leitura em três grupos de livros, começando pelo romantismo, passando pelo realismo e terminando com o modernismo. “A ordem não é obrigatória, mas ajuda o estudante a compreender a relação do movimento literário com o período histórico, o que facilita a análise das obras”.
Considerando que os livros exigidos têm uma média de 200 páginas cada, a estimativa é que o estudante leia um livro por mês. “Se o candidato ler 10 páginas por dia, ele vai gastar cerca de 40 minutos com leitura, o que não é muito pesado para a rotina”, afirma Marcílio. O professor recomenda a leitura nos dias úteis, deixando o fim de semana para recuperar os possíveis atrasos.
A única exceção da lista é a obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade. De acordo com Marcílio, em vez de separar um mês só para ela, o candidato pode lê-la ao longo do ano. “Por ser uma compilação de poemas, o estudante pode fazer da obra seu livro de cabeceira, lendo um ou dois poemas por semana”.
Ao final de cada livro, a sugestão é que o estudante busque fazer seus próprios resumos da obra e também procure questões de vestibulares anteriores para entender o que pode ser cobrado. “Esse material pode ser recuperado na véspera do vestibular para revisão”, explica.
A leitura de resumos das obras é completamente desaconselhável, frisa Marcílio. “O estudante que só lê o resumo não consegue entender as questões do mesmo modo que outro que leu a obra inteira, uma vez que as perguntas são interpretativas e, com frequência, com alto nível de dificuldade”.
Viagens na Minha Terra
A obra do português Almeida Garrett publicada 1846 abre a lista de leitura para os vestibulares da Fuvest e Unicamp e também inicia o bloco de três livros do romantismo que são cobrados nas questões. Com cerca de 250 páginas, pode ser lido em até cinco semanas, considerando 10 páginas por dia. A leitura é densa, por isso mantenha o ritmo e tente usar alguns finais de semana para tentar ler mais páginas, assim dá para ler tudo sem ficar mais de um mês em uma obra. A narrativa, considerada a única expoente do romantismo português, ajuda a compreender a decadência do império de Portugal. A história é composta por dois eixos narrativos: no primeiro, o narrador faz relatos de suas viagens pelo país, intercalando citações literárias, filosóficas e históricas. Já o segundo eixo, que é interposto no meio dos relatos de viagem, conta o drama amoroso que envolve cinco personagens. A trama amorosa tem como pano de fundo as lutas entre liberais e miguelistas (1830 a 1834) e as personagens funcionam na narrativa como uma visão simbólica de Portugal. Apesar se ser cronologicamente mais antiga que as outras duas obras do romantismo presentes na lista, Viagens na Minha Terra já traz traços do realismo, movimento predominante no segundo bloco de leitura.
Memórias de um Sargento de Milícias
Segunda obra do romantismo no bloco de leitura, o livro de Manuel Antônio de Almeida retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século XIX e traz pela primeira vez na literatura nacional a figura do malandro. A trama se difere das de outros romances porque foi escrita em folhetins e por vezes os capítulos nem sempre se relacionam entre si. O romance conta a história de Leonardo, filho de Leonardo-Pataca e Maria das Hortaliças, que se conheceram em uma viagem de navio. O casal se separa após Leonardo-Pataca descobrir a traição de mulher. Leonardinho, como passa a ser chamado o filho do casal, é adotado então pelo padrinho, que deseja que o afilhado se torne padre. A vocação religiosa, porém, não faz parte dos anseios do garoto, que conforme cresce torna-se cada vez mais uma caricatura do malandro carioca: vive sem trabalho fixo e sempre em busca de aventuras amorosas. Em uma dessas andanças, encrenca-se com um major e é salvo pela madrinha, que faz um trato com o militar: Leonardinho se tornaria o sargento de milícias do título. O livro tem 192 páginas e dá para ser lido em menos de um mês.
Til
Publicada em 1892, o livro de José de Alencar faz parte do conjunto de obras da fase regionalista do autor, junto com O Gaúcho, O Sertanejo e Tronco do Ipê. A narrativa conta a história de Berta, que recebe o apelido Til, filha bastarda de um fazendeiro do interior de São Paulo. A personagem é a típica heroína romântica de alma bondosa que se sacrifica pelos outros. Filha de um encontro amoroso entre Besita e o fazendeiro Luis Galvão, a menina passa a ser criada por nhá Tudinha após Ribeiro, marido de Berta, descobrir que a mulher o havia traído. As personagens de Til são arquétipos da sociedade brasileira do século XIX: os escravos, os aristocratas, o povo pobre. A sociedade da época estava estruturada basicamente em duas camadas sociais: de um lado os aristocratas, grandes latifundiários e escravocratas, e de outro lado estavam os escravos e a gente humilde do campo. O livro de 250 páginas encerra a sequência de obras do romantismo.
Memórias Póstumas de Brás Cubas
A obra de Machado de Assis publicada em 1881 abre o bloco de livros do período do realismo. O livro mudou radicalmente o panorama da literatura brasileira por trazer um narrador que conta sua vida depois de morto. A história descreve a vida de Brás Cubas, herdeiro de uma rica família do Rio de Janeiro que depois de morto decide contar suas aventuras, expondo de forma irônica os privilégios da elite do fim do século XIX. Após um romance frustrado com Marcela, uma prostituta de luxo, o pai de Brás manda o jovem estudar em Coimbra. Com diploma em mãos, ele retorna ao Brasil, mas continua usufruindo dos privilégios da família sem trabalhar. Com a narração em primeira pessoa, o narrador conduz o leitor por sua visão de mundo, seus sentimentos e o que pensa da vida. A maiora das edições do livro tem 220 páginas, podendo ser encontrado também em versão de bolso.
O Cortiço
A obra de Aluísio Azevedo de 1890 também aparece na lista como um dos grandes expoentes do realismo. A história tem como cenário uma habitação coletiva e difunde as teses do naturalismo, doutrina que tinha grande prestígio na Europa à época e que explica o comportamento humano com base na influência do meio, da raça e do momento histórico. O romance é considerado uma peça-chave para entender o Brasil no final do século XIX por apresentar a ideologia e as relações sociais do período. O foco inicial da narrativa é João Romão, o dono do cortiço, um português ambicioso que explora todos a sua volta e chega até a roubar. É o protótipo do “capitalista explorador”. Paralelamente, surgem retratos dos moradores do cortiço, destacando-se Rita Baiana, Jerônimo, Capoeira Firmo e Piedade. Suas vidas são determinadas pelo dia-a-dia da moradia coletiva, um ambiente insalubre e em certa medida promíscuo. O livro com 370 páginas é o mais longo da lista, por isso, nesse fase é recomendável tentar aumentar o número de páginas diárias.
A Cidade e as Serras
Último livro de Eça de Queirós, A Cidade e as Serras foi publicado em 1901, um ano após a morte do autor português. A obra não estava inteiramente acabada, mas ainda assim é considerada uma das mais importantes do escritor, concentrando as principais características do período de sua maturidade artística. Na história, o narrador-personagem, José Fernandes, é quem conta a saga do amigo Jacinto, que vive em Paris, considerada a capital da Europa na época. Jacinto detesta a vida no campo e louva as inovações científicas e as facilidades da vida urbana. Sua vida muda, porém, quando ele volta para sua cidade natal Tormes, no interior de Portugal. No caminho, ele tem suas malas extraviadas, precisando se adaptar ao vilarejo apenas com a roupa do corpo. A obra de 240 páginas fecha o bloco de livros do realismo.
Capitães da Areia
O livro do escritor baiano Jorge Amado, publicado em 1937, inicia o grupo de obras do período do modernismo cobradas nos vestibulares. A história retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, mas sem focar apenas os assaltos e as atitudes violentas, trazendo também as aspirações e os pensamentos dessas crianças. A obra tem caráter jornalístico, apresentando logo no início uma reportagem sobre um assalto feito pelos “Capitães de Areia”, grupo de crianças tido como perigoso. A história de 280 páginas pode ser dividida em três artes: a primeira, com a apresentação dos personagens através das reportagens fictícias, a segunda quando a personagem Dora entra para o grupo dos meninos de rua e a terceira, na qual o autor conta o desenrolar da vida de de cada uma das crianças.
Vidas Secas
A obra de Graciliano Ramos, de 1938, narra a trajetória de uma família de retirantes nordestinos que é obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos afetadas pela seca. Ao longo da história, Fabiano, o chefe da família, tenta de todas as maneiras encontrar alternativas para superar as dificuldades. Em uma dessas tentativas, ele aceita trabalhar para um fazendeiro local e dividir os ganhos da produção. Ao longo da história, porém, sua mulher Sinhá Vitória, descobre que o marido está sendo explorado e tenta, em vão, alertá-lo. Quando a seca atinge a fazenda, a família se vê obrigada a novamente. A obra pertence à segunda fase modernista, conhecida como regionalista, e é qualificada como uma das mais bem-sucedidas criações da época. O estilo de Graciliano Ramos, que se expressa principalmente por meio do uso econômico dos adjetivos, parece transmitir a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão. A obra tem 175 páginas e pode ser lido em até três semanas.
Sentimento do Mundo
Composta por 28 poemas, a obra de Carlos Drummond de Andrade foi publicada pela primeira vez em 1940. No livro, o poeta trabalha com poesias de cunho social, refletindo o momento de instabilidade e inquietação dos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial. Outras temáticas, porém, estão presentes, ainda que em menor proporção, como a terra natal, o indivíduo e a família. A dica do professor de literatura do Anglo Vestibulares Fernando Marcílio é ler a obra ao longo do ano, um poema ou dois por semana, paralelamente aos outros livros. “Mas sempre deixando em mente que esta é uma obra modernista e que faz parte de um contexto histórico muito específico, que envolvem a Segunda Guerra Mundial e a ascensão de regimes ditatoriais”, explica.
Fonte: http://www.livrosepessoas.com/
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