Vários leitores nos enviam mensagens desesperadas
nas quais afirmam não saber como começar e/ou como desenvolver uma
dissertação-argumentativa, o tipo textual exigido pelo Enem e pela maioria dos
vestibulares e concursos brasileiros. Muitas vezes, são mensagens genéricas, ou
seja, que não especificam as reais dificuldades destes leitores e, deste modo,
infelizmente, fica muito difícil de orientarmos da melhor maneira possível.
Além disso, como não conhecemos a vida escolar destas pessoas, é até
irresponsabilidade darmos palpites individuais.
Porém, podemos passar algumas dicas e orientações
para aqueles que estão na situação descrita acima a fim de ajudá-los a iniciar
e a desenvolver uma dissertação-argumentativa.
A primeira e a principal dica é ter o maior contato
possível com a leitura e com a escrita, tanto na escola quanto fora dela, em
casa, no trabalho etc. Esta aproximação deve transformar-se em hábito e deve,
acima de tudo, ter qualidade. O repertório do candidato é essencial para
cumprir a prova de redação do Enem e dos demais vestibulares e também para a
vida. Pensar que obter a nota mínina, de corte, apenas para passar é
mediocridade, já que a língua e a linguagem estão em nossas vidas antes de
nascermos e continuarão até morrermos.
Devemos ler o que os professores pedem, pois este
conteúdo faz parte do cânone literário brasileiro, português e mundial, em
alguns casos, mas também devemos ler (e a escola deve incentivar) o que
gostamos, como por exemplo, histórias em quadrinhos, charges, gêneros
literários diversos, além dos veículos de informação como jornais e revistas.
A segunda dica é uma extensão da primeira: devemos
ter o hábito de escrever, não só o de ler. A escola deve colocar os alunos em
contato não apenas com os tipos textuais, mas também com os mais diversos
gêneros. Obviamente não há tempo hábil para apresentar todos os gêneros, mas os
que fazem parte do nosso dia a dia e os que circulam nas principais esferas de
circulação social devem ser ensinados e aprendidos nas escolas.
Para os candidatos ao Enem e aos demais vestibulares,
a orientação é escrever, pelo menos, uma redação por semana, alternando
momentos de escrita como estudo, sem delimitar o tempo, com momentos de treino
simulado, isto é, controlando o tempo como se fosse o momento da prova.
A terceira dica é mais prática. Salientamos, no
entanto, que não há fórmulas ou receitas mágicas, mas há estratégias para
começar e desenvolver a tese de uma dissertação-argumentativa. Há seis passos
que podem ser dados no momento de rascunhar, de planejar as redações deste tipo
textual; são eles:
I. Interrogue o tema;
II. Responda com a opinião;
III. Justifique com o argumento principal;
IV. Fundamente-o com os argumentos auxiliares;
V. Apresente as estratégias argumentativas;
VI. Apresente a proposta de intervenção social e conclua.
Ao lermos a proposta de redação do Enem, por
exemplo, já sabemos de antemão que o tema possui cunho social e isso já é uma
vantagem, pois nos demais vestibulares nem este viés sabemos antes de
conhecermos a prova.
No rascunho, interrogue o tema, isto é,
transforme-o em pergunta e questione-se acerca do mesmo e, em seguida,
responda-a com a sua opinião. O próximo passo é justificar esta resposta com um
argumento principal que, no fim das contas, será a sua tese. O quarto passo é
fundamentá-la com os argumentos auxiliares, ou seja, com as estratégias
argumentativas, o que já é o quinto passo. O sexto e último é apresentar a
proposta de intervenção social.
Podemos perceber que esta estratégia, além de
organizar e planejar a progressão temática da dissertação-argumentativa, faz o
mesmo com a estrutura da mesma. O primeiro e o segundo passos dizem
respeito à introdução; o terceiro trata-se do segundo parágrafo; o quarto e o
quinto passos, respectivamente, dos terceiros e quartos parágrafos e o sexto
passo, finalmente, diz respeito à conclusão.
Esperamos que esta estratégia ajude as pessoas que
afirmam não saber como começar e/ou desenvolver uma dissertação-argumentativa.
Quem encontra-se nesta situação, pode seguir estes seis passos e avaliar se
houve melhora.
*CAMILA DALLA POZZA PEREIRA é
graduada e mestranda em Letras/Português pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Atualmente trabalha na área da Educação exercendo funções
relacionadas ao ensino de Língua Portuguesa, Literatura e Redação. Foi
corretora de redação em em importantes universidades públicas. Além disso,
também participou de avaliações e produções de vários materiais didáticos,
inclusive prestando serviço ao Ministério da Educação (MEC).