sábado, 25 de outubro de 2014

ENEM 2014: INTERTEXTUALIDADE

A intertextualidade leva os textos a dialogarem entre si. Leia os textos “Nel mezzo del camin” (texto I), do poeta parnasiano Olavo Bilac, e “No meio do caminho” (texto II), do modernista Carlos Drummond de Andrade, a seguir.
Texto I

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
 

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
 

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
 

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

Disponível em: <www.casadobruxo.com.br/poesia/o/olavo16.htm>. Acesso em: 27 fev. 2013. 
Texto II

No meio do caminho tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
tinha uma pedra 
no meio do caminho tinha uma pedra. 
 

Nunca me esquecerei desse acontecimento 
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho 
tinha uma pedra 
tinha uma pedra no meio do caminho 
no meio do caminho tinha uma pedra

Disponível em: <www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm3.html>. Acesso em: 27 fev. 2013.
 
Pela própria questão temporal, pode-se afirmar que Drummond retomou o texto de Bilac de forma crítica. Sob essa perspectiva, é correto concluir que:
( a )  Drummond manteve o quiasmo proposto por Bilac nos dois primeiros versos, porém enquanto este o faz com um vocabulário coloquial, aquele se utiliza de termos formais.
( b )  o poeta modernista, como era de uso à época, enfatizou o decassílabo com apenas dois versos curtos. Bilac, em seu soneto, automaticamente também fez uso do decassílabo.
( c )  o próprio título aponta que parnasianos eram alvos das críticas modernistas, o que se pode notar pela repetição de “no meio do caminho” e “tinha uma pedra”, como se algo estivesse batendo em um obstáculo.
( d )  o verbo ter usado em lugar do verbo haver e a incorreção na forma pronominal de esquecer são manifestações coloquiais que atualizam um olhar moderno, já aceitável pelos parnasianos.
( e )  os termos fatigado e fatigada, do texto I, retomam a expressão “minhas retinas tão fatigadas”, do texto II.
 
Alternativa: C
Os modernistas buscavam construir a identidade nacional e, para isso, era necessária nossa independência cultural. “Macaquear a sintaxe lusitana”, como dizia Manuel Bandeira, era uma prática parnasiana, por isso tal escola era atacada pelos modernos. O poema “No meio do caminho” busca demonstrar a existência dos obstáculos no caminho da nova escola, a fim de criticar e levantar a crítica de outrem. Fazê-lo com “Nel mezzo del camin”, importante poema de Bilac, foi realmente uma afronta. Mas é nesses casos que a crítica se faz mais efetiva.

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