A intertextualidade leva os textos a dialogarem entre si.
Leia os textos “Nel mezzo del camin” (texto I), do poeta parnasiano Olavo
Bilac, e “No meio do caminho” (texto II), do modernista Carlos Drummond de
Andrade, a seguir.
Texto I
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
Disponível em: <www.casadobruxo.com.br/poesia/o/olavo16.htm>. Acesso em: 27 fev. 2013.
Texto II
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
Disponível em: <www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm3.html>. Acesso em: 27 fev. 2013.
Pela própria
questão temporal, pode-se afirmar que Drummond retomou o texto de Bilac de
forma crítica. Sob essa perspectiva, é correto concluir que:
( a ) Drummond
manteve o quiasmo proposto por Bilac nos dois primeiros versos, porém enquanto
este o faz com um vocabulário coloquial, aquele se utiliza de termos formais.
( b ) o
poeta modernista, como era de uso à época, enfatizou o decassílabo com apenas
dois versos curtos. Bilac, em seu soneto, automaticamente também fez uso do
decassílabo.
( c ) o
próprio título aponta que parnasianos eram alvos das críticas modernistas, o
que se pode notar pela repetição de “no meio do caminho” e “tinha uma pedra”,
como se algo estivesse batendo em um obstáculo.
( d ) o
verbo ter usado em lugar do verbo haver e a incorreção na forma pronominal
de esquecer são manifestações
coloquiais que atualizam um olhar moderno, já aceitável pelos parnasianos.
( e ) os
termos fatigado e fatigada, do texto I, retomam a
expressão “minhas retinas tão fatigadas”,
do texto II.
Alternativa: C
Os
modernistas buscavam construir a identidade nacional e, para isso, era
necessária nossa independência cultural. “Macaquear a sintaxe lusitana”, como
dizia Manuel Bandeira, era uma prática parnasiana, por isso tal escola era
atacada pelos modernos. O poema “No meio do caminho” busca demonstrar a
existência dos obstáculos no caminho da nova escola, a fim de criticar e
levantar a crítica de outrem. Fazê-lo com “Nel mezzo del camin”, importante poema
de Bilac, foi realmente uma afronta. Mas é nesses casos que a crítica se faz
mais efetiva.
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